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Para lá da imponente paisagem natural, “onde a terra acaba e o mar começa”, a Ponta de Sagres, também conhecida como Promontório de Sagres, guarda uma história riquíssima. Foi aqui, no limite sudoeste da Europa, que Infante Dom Henrique investiu na expansão marítima, derrubando mitos e crenças que há muito acompanhavam aqueles que se aventuravam além-mar.Até ao Infante Dom Henrique, filho do rei D. João I, nunca um elemento da família real tinha vivido no Algarve. Com a conquista de Ceuta, em 1415, o Infante acabou por se mudar para Lagos, onde já passava algumas temporadas. Foi, porém, em Sagres, mais tarde, que Infante Dom Henrique criou uma vila para si, a vila do Infante, cuja localização ao certo é hoje desconhecida, mas que ficaria algures entre a Ponta de Sagres e o cabo de São Vicente, e onde acabaria por morrer em 1460. Tinha 66 anos.
Popularmente apelidado Infante de Sagres ou O Navegador, o infante percebeu, desde logo, o potencial do Algarve. Ele que não via limites no mar percebeu que esta região, situada perto de Marrocos, reunia as condições perfeitas para concretizar a expansão marítima portuguesa. No Algarve, encontrou mão-de-obra experimentada no mar e a esses juntou carpinteiros e académicos num investimento pessoal sem precedentes.Promotor da Conquista de Ceuta, o Infante procurava vencer o mar e chegar mais longe. Foi por sua ordem que a partir de 1422 se tentou dobrar o Cabo Bojador, até então o limite conhecido da costa ocidental africana e onde se assumia que ficava o fim do mundo. Ao contrário do senso comum, o Infante Dom Henrique recusava-se a acreditar nas lendas que relatavam a existência de monstros marinhos ali e que apontavam aquele mar como intransponível. Foi só em 1934, depois de muitos navios desaparecidos – segundo Damião Peres, com base numa carta régia do século XV, foram 15 tentativas em 12 anos –, que Gil Eanes quebrou o mito. A mando do Infante, o navegador nascido em Lagos e habituado a domar o mar, conseguiu ir além do Bojador, mas só numa segunda tentativa. Eanes conseguiu chegar até angra dos Ruivos, onde colheu rosas silvestres como prova de que ali tinha chegado.
Não é demais dizer que é nesse momento que se dá uma revolução geográfica que vem mudar todo o conhecimento. A História do mundo muda quando se passa o Cabo Bojador.
A Fortaleza de Sagres, estrategicamente no promontório de Sagres, é por isso um marco desse tempo. A sua fundação no século XV, para controlo da navegação marítima no eixo Atlântico-Mediterrâneo, está associada ao Infante D. Henrique. No terramoto de 1755 foi fortemente atingida e a sua reconstrução aconteceria apenas anos mais tarde – a muralha que existe actualmente, por exemplo, é posterior ao grande sismo. Do tempo do Infante julga-se ser a rosa-dos-ventos, com 50 metros de diâmetro, hoje um dos grandes chamariz da Fortaleza de Sagres, que em 2022, foi o terceiro monumento mais visitado do país, atrás do Mosteiro dos Jerónimos e da Sé do Porto.